Dia das bruxas

Dia 31 de Outubro. Ela sai do restaurante já por volta da meia noite, com a bezaina de whisky do costume. Decidiu maquilhar-se a rigor, para tentar entrar no espírito da noite das bruxas. Olhos bem carregados de preto, toda vestido de negro, e com a sua bandolete à la “corneador”.

A aldeia é pequena, por isso foi mesmo de bicicleta, para não correr o risco do Sr. Rosa, ou Agente Bigodes, como era conhecido, lhe passar uma multa por condução arriscada (risco de atropelar um boi – era o que pensava), mas enfim, o sr. Guarda muito gostava de a mandar parar todas as noites... Uma paixão assolapada talvez.
Lá vai ela, a pedalar vagarosamente pelo meio do mato, a cantar o último êxito de Tony Carreira (nem ela sabia que conhecia as letras!). A lua está cheia, que lhe ilumina o caminho, e é quando sente um “crack” debaixo da roda. Meia zonza, sai aos “s” da bicicleta e tenta descortinar o que se tinha passado. “yac... que bicho nojento é este??” Um escaravelho enorme, quase do tamanho de um rato, jaz falecido e esborrachado. “Paz à sua alma”, pensou, e ao levantar-se sente um arrepio a percorrer-lhe o corpo. De seguida umas unhas afiadas arranham-lhe as costas, fazendo-a soltar um gemido de dor. Dá um passo em frente e sente o pé a enterrar-se numa poça de sangue, húmida e quente, que lhe suja o pé, e a sua sandalinha nova que tão cara lhe foi. Grita e começa a correr não sabe bem para onde, quando se depara com uma cama. Ali, no meio do nada, uma cama vazia, com lençóis vermelhos de seda. Não consegue resistir e sentir por entre os dedos o fofinho do tecido. Quem sabe, posso descansar aqui, e tentar ficar mais sóbria....
Nisto, um som distante, parecido com um uivado de lobo. Um trovão. Um vento que se levanta num ápice. Uma sombra. Uns passos que se aproximam. Uma mão que lhe toca no ombro.
Solta um grito de pânico e olha para trás.

- Minha linda, o quanto desejei apanhar-te sozinha. Andas aí a fugir de mim, anda cá a mim, anda!

- Agente Bigodes?? O que faz aqui????